quinta-feira, 28 de novembro de 2019

AMOR FORA DOS PADRÕES



passei a minha adolescência me odiando. meu cabelo não tinha escova, passava 2h fazendo prancha em um cabelo cacheado, volumoso e lindo. usava o tempo da educação física para pintar meus cotocos de unhas com as minhas amigas, invejando as que tinham unhas um pouquinho maior. ficava mais de uma semana sem comer, mesmo usando 36. e quando um menino que eu gostava ficou com outra, passei semanas olhando o orkut dela, me perguntando porque eu não tinha aquela aparência.

quando eu era adolescente e me achava horrível

há quase 4 anos saí de um relacionamento em que, incontáveis vezes, fui trancada dentro do meu próprio quarto. e nessas incontáveis vezes fui agredida verbalmente, fisicamente e ameaçada de morte. não sei quando foi exatamente que perdi o controle para permitir que isso acontecesse. nunca pedi a ajuda de ninguém por achar que em algum momento mudaria. começou no oitavo mês do namoro e durou até completar 2 anos e meio. eu já não tinha amor próprio e nem saúde mental.

assim que terminei o relacionamento emagreci 7kg em 1 mês

quando terminou e eu recuperei a minha saúde mental, achei que já tinha recuperado o meu amor próprio também. simplesmente por ter emagrecido muito e ter me tornado mais atraente para outros caras. eu estava completamente enganada. logo depois embalei em um relacionamento aberto, onde era bem tratada e livre. mas esse relacionamento era com um cara que não era tão satisfeito com a minha aparência, ficava comigo por eu conseguir substituir um melhor amigo que ele não tinha. como eu me amarrava na dele, meu foco foi querer mudar para tentar agradá-lo. sem sucesso!

tirei essa foto para experimentar o biquíni que ia comprar e mostrar pra alguém para ver se ficou bom. não mostrei pra ninguém.
quando esse relacionamento aberto "terminou", eu achei que tinha encontrado meu amor próprio, já que não ouvia mais criticas da minha aparência e era atraente para os caras que eu quis ficar. me enganei outra vez. eu trabalhava em um lugar cheio de mulheres que se sentiam bem abaixando a minha autoestima, para elas eu estava sempre precisando de algum "ajuste". e então, meu distúrbio de imagem continuou. voltei a estaca zero.

minha antiga mesa de trabalho com algumas das capsulas que tomava para emagrecer.
quando larguei esse trabalho, fiz uma longa viagem para lugares onde ninguém me conhecia, minha beleza era fora do padrão local e recebia elogios a cada esquina. achei que o fato dos elogios aparecerem, não ouvir críticas, estar sozinha, sem querer nenhum tipo de relacionamento com ninguém, eu tinha encontrado o meu amor próprio. mas não. tomei um pequeno fora de um menino que fiquei 3 vezes no meio da viagem e me vi indo no salão para retocar a raiz do meu cabelo.

quando retoquei a raiz do meu cabelo, mesmo sem poder gastar muita grana.
eu sou humana e sou movida ao que os outros acham, não tem jeito. mas eu parei para ouvir o que os outros tinham para falar sobre a minha personalidade. eram tantas coisas incríveis que eu mesma nunca tinha reparado. comecei a perceber que sou e faço tantas coisas que nem eu nunca tinha me dado conta. coloquei um espelho interno e achei o meu amor próprio.

eu sou muito mais do que a garota gorda, sem bunda, com a sobrancelha torta, com a ponta do cabelo minguada... eu sou a garota inteligente, independente, corajosa pra caralho, generosa, cheia de fé, que arrasa na cozinha, humilde, que bate papo até com mendigos na rua... muitas coisas! e claro, com uma própria companhia MARAVILHOSA.

talvez o fato de eu ter me mudado tanto nos ultimos tempos e ter percebido que, no final de tudo, essa é a unica companhia que eu tenho, me fez ver as coisas por dentro. por exemplo, entre outubro e novembro eu morei em 3 lugares diferentes (próximo texto), e perdi as contas de quantas mudanças foram feitas o ano inteiro.

para testar a minha mudança, recentemente recebi uma crítica de um idiota que eu achei que seríamos grandes amigos. ele fez uma brincadeira de mau gosto uma vez, deixei claro que me incomodei, ele percebeu, mas resolveu brincar outra vez, com a finalidade de me magoar. poderia simplesmente ignorá-lo e bloquear, mas meu sangue não é de barata, então deixei claro onde eu gostaria que ele tomasse (nucu). mas o engraçado de tudo é que eu tinha uma consideração por ele, ainda mais por ser o unico que eu conhecia na cidade onde eu estava morando, mas não me abalou. o que eu me perguntei é se ele tem o costume de fazer isso com outras pessoas. por sorte, eu estou satisfeita e confortável com meu corpo. e se não estivesse? será que ele faz isso com quem não está?

outro dia eu li uma frase que dizia: "se falar gentilmente com plantas, ajuda elas a crescerem, imagine o que acontece se você falar gentilmente com pessoas...". bom, se você leu até aqui, espero que você seja uma pessoa que espalhe coisas boas por aí e não perca a oportunidade de ficar calado e nem de fazer um elogio. e que respeite a "regra dos 5 minutos": "consiste na compreensão do que é de fato necessário ser dito ao outro, melhor dizendo, é uma regra que se baseia em empatia, respeito e compaixão com o próximo". ou seja, se alguém está com um alface no dente, diga! isso pode ser solucionado em 5min. a minha barriga enorme não pode ser tirada em 5min, então cale-se! e se tá te incomodando, foda-se!

foto tirada hoje mesmo desse corpinho gordo e feliz.

eu sou feliz aqui dentro!

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