estar na zona de conforto é como ter um guarda roupa bagunçado. jogamos tudo no chão para achar uma peça e depois jogamos tudo para dentro de novo, fechando a porta, nos convencendo de que está tudo bem. quando decidimos arrumar, jogamos tudo em cima da cama e nos perguntamos: "por que eu fiz isso?". depois que arrumamos, guardamos as roupas dobradas, separadas por cor, categoria, estilo... e percebemos que não tem vida melhor do que a vida com um guarda roupa arrumado.
ano passado eu tive algumas perdas familiares dolorosas. no início de maio, inesperadamente, minha vó materna faleceu. foi um choque para a minha família! em junho, minha cunhada descobriu que estava grávida, de gêmeos. um susto! a ficha demorou para cair. eu não conseguia acreditar que de 1 sobrinho (já tinha o Miguel, de 7 anos), eu passaria a ter 3. minhas preocupações foram: "será que pelo menos um vai me respeitar?" e "como vou dar presente pra essa galera toda? vou ter que sortear um por mês e arrumar briga com os outros dois".
os nomes dos bebês foram escolhidos: Mateus e Murilo. Mateus seria quem nascesse primeiro e Murilo seria o segundo. no final de setembro fizemos o chá dos bebês. em outubro, minha cunhada passou mal e ficou internada por alguns dias. em um desses dias, os bebês, prematuramente, queriam nascer. o parto foi normal. Mateus saiu junto com a placenta, o que fez com que Murilo perdesse o oxigênio. e como não estava encaixado, demorou para que os médicos o encontrasse. Murilo não resistiu.
Mateus foi para a UTI. dois dias depois passou por uma operação, devido a um sangramento interno, já que seus órgãos ainda não estavam formados. foi cortado cerca de 10cm de intestino. Mateus resistiu. ficou um mês na incubadora, entre altos e baixos. nossa vida girava em torno de notícias dele. até que ele foi tendo melhoras e finalmente minha cunhada pôde segurá-lo pela primeira vez. dois dias depois, na melhor semana dele, uma infecção tomou conta do seu corpo minúsculo. a mensagem mais dolorida da minha vida foi a do meu irmão, que dizia: "perdemos o Mateus".
eu nunca vou conseguir falar disso ou escrever sem me emocionar. choro toda vez que penso muito e eu sei que nunca vou superar. mas isso pra mim foi como um choque de realidade. foi como se a vida gritasse pra mim: "VOCÊ NÃO TÁ PERCEBENDO?". eu percebi. eu percebi que de uma hora pra outra tudo acaba, sem explicações. ver a força e a vontade de viver de um bebê, que cabia na palma das mãos, mexeu comigo. olhei pra minha vida e comecei a me perguntar o que eu estava fazendo. comecei a me dar conta de que, definitivamente, eu não estava feliz. vi que eu estava vivendo com meu guarda roupa bagunçado e portas fechadas.
as vezes a gente precisa de um incentivo. decidimos arrumar o guarda roupa quando chegamos no limite e vemos que já não conseguimos encontrar mais nada com facilidade. o meu limite chegou ali. agi no impulso. pedi demissão, coloquei minha vida na mala e, só com a passagem de ida, fui finalmente viver a vida dos meus sonhos. quando as pessoas vinham falar que queriam fazer o mesmo e não conseguiam, para algumas eu contava tudo e explicava que eu só estava fazendo porque era o meu tempo. cada um tem o seu tempo.
mas sabe qual é o problema do guarda roupa arrumado? não existe mágica para mantê-lo. e na correria do dia a dia, a gente acaba misturando as cores das peças de roupas. já não se importa mais em dobrar antes de guardar e, quando nos damos conta, temos que fechar as portas para esconder a bagunça que está lá dentro outra vez. voltamos para zona de conforto.
é foda admitir isso, mas em algum momento eu perdi minha coragem.
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PS: escrever esse texto e lembrar dos motivos que me fizeram começar, me fez um bem tão grande que eu acho que já até recuperei a coragem hahahaha. dica pra vida: escreva seus problemas, escreva suas fraquezas.
NÃO ME DEIXA FALANDO SOZINHA E ME CONTA NOS COMENTÁRIOS SE O SEU GUARDA ROUPA ESTÁ ARRUMADO.
beijos no seu coração!