terça-feira, 7 de julho de 2020

Calm down!



10 de junho de 2020. estava recomeçando a minha vida, de novo. entrei em um avião em Manchester e parei na conexão em Amsterdam. eu tinha uma inquietação dentro de mim. quase uma raiva, quase uma culpa, e muito arrependimento. a viagem durou um pouco mais de 1:30h. quando o avião parou e eu puder levantar, levantei com tanta pressa, que não percebi que esbarrei a minha mochila na mulher que estava em pé ao meu lado. "wooow! CALM DOWN", ela disse. percebi o que tinha feito e vi que outros passageiros estavam me olhando. "I'm sorry", respondi rápido, dei as costas e saí do avião.

depois de alguns passos, me senti mal. me perguntei o que estava fazendo. olhei para trás e vi que a mulher vinha na minha direção. parei para esperá-la. ela se assustou quando me aproximei. fiz um gesto de paz com a mão e reforcei meu pedido de desculpas: "I'm so sorry! I'm really sorry!". ela acenou com a cabeça demonstrando estar tudo bem e seguimos.

o voo que me levaria para o Rio de Janeiro foi reagendado para 20 minutos depois do planejado. fiquei esperando um pouco mais de uma hora. continuei com a inquietação dentro de mim. eu só queria chegar na minha casa, deitar na minha cama e fazer de conta que muita coisa não estava acontecendo.

assim que me acomodei na minha poltrona, ouvi a voz de uma mulher e uma criança atrás de mim. a mulher parecia ter cerca de 23 anos e o menino parecia ter cerca de 5 anos. ela era mãe dele. em uma das primeiras conversas, ela o ordenou que dormisse, falou sobre o comportamento dele naquela viagem que estava sendo finalizada e disse que nunca mais viajaria com ele, que da próxima vez o deixaria na casa da vó. o menino começou a reclamar, lembrou de uma viagem para a Itália que ele se comportou. mesmo assim, a mãe foi insistente em dizer que não viajaria mais com ele.

11h de voo e o menino passou pelo menos 5h tentando chamar a atenção da mãe. a mãe dizia coisas terríveis para ele, o perguntava: "por que você é assim?". em um momento, ela disse que fingiria que não o conhecia e que não era mais a mãe dele. foi quando o menino começou a chorar e reclamar um pouco mais alto. o meu banco era na frente do dele, ele chutou meu banco muitas vezes. olhei em volta e vi outros passageiros acordando e vendo a cena.

fiquei com pena do menino, que estava começando a vida com uma base daquele jeito. pouco entende do que está acontecendo ao redor, tem um mãe tão infantil quanto ele, que não se importou de incomodar passageiros de um voo internacional, noturno, tentando ganhar uma discussão idiota, o diminuindo e o ignorando.

pensei em mim. que estava apenas REcomeçando a minha vida, mas com uma bagagem cheia de experiências, que não me deixava seguir andando, sabendo que um pedido de desculpas não foi o suficiente. e sabendo mais ainda o tipo de pessoa que eu não quero ser. e naquele momento, o tipo de mãe que eu não quero ser.

por maior que seja minha frustração, devo tratar com empatia as pessoas ao meu redor e é isso que vou passar para o meu filho. enquanto não tenho filho, escrevo para passar para alguém.

obrigada por me ler!

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